FILTRANDO OS SONHOS: Costura para Crianças

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Filtrando os Sonhos é uma atividade de Contoexpressão : arte de compartilhar, provocar e despertar conhecimento, de forma sensorial e simbólica por meio de contos.

O filtro dos sonhos é um artefato indígena, cuja lenda conta que as energias desarmônicas geradas da guerra entre duas tribos estavam resultando em pesadelos para as crianças. O filtro dos sonhos era feito e colocado na porta da casa para proteger essas crianças dessas energias ruins.

Ananda Sette escreveu um conto inspirado nessa lenda e desenvolveu uma oficina de contoexpressão que inclui trabalhos manuais .

Objetivo:

O objetivo dessa oficina é desenvolver nos participantes a habilidade de lidar com seus medos e limitações internas.

Através dessa lenda transformada em conto, introduziremos os elementos simbólicos que servirão de sementes para despertar o conhecimento e provocar um diálogo interno nos participantes, para que possam interiorizar a mensagem desta atividade. 

A Oficina Filtrando Sonhos está dividida em quatro partes:

1. Introdução:

Vamos conectar os participantes com os elementos simbólicos do conto “O Filtro dos Sonhos” perguntando se sabem o que é um curumim, um pajé, um amuleto e como as tribos indígenas tem a cultura de ligação profunda com a natureza.

2. O Conto:

O Filtro dos sonhos (anexo no final).

3. Perguntas:

  • Como vocês se sentiram ao ouvir a história?
  • Fechem os olhos e pensem que estão segurando uma pena, ela é leve ou pesada?

Pode se pedir para os participantes segurarem a pena e dizerem que tipo de sentimento a leveza da pena pode trazer para o filtro dos sonhos. Pode-se dizer que, como no conto, a pena de coruja também é símbolo de sabedoria.

  • Você tem uma pedra ou um amuleto pessoal?

Mostrar pedras e cristais e dizer dos elementos curativos de cada um.  Cada pedra tem uma vibração diferente e são consideradas pelos povos nativos, elementos carregados de poder de cura. É como um amuleto, algo que a pessoa considera que pode lhe trazer sorte.

  • Uma folha seca é diferente de uma folha verde? Por quê?

A folha verdinha acabou de nascer… Já a folha seca, está concluindo seu ciclo, mas nem por isso deixa de ser bela e trazer algum ensinamento de delicadeza, aceitação e  resistência à passagem do tempo. Ela trás consigo a essência do ciclo da vida

  • Você sabe o que é um filtro e para que serve?

Pode-se mostrar a filtragem de uma água com resíduos para que a metáfora seja entendida de maneira mais completa. Pode-se perguntar: oque são os resíduos indesejados na história?

4. Atividade:

Confecção de um Filtro dos sonhos

Materiais necessários:

  • Um aro de arame, de pote de plástico ou algo de formato redondo;
  • Pedras ou miçangas;
  • Pena;
  • Folha seca;
  • Semente (alguma semente ou grão grande ou anis estrelado, pau de canela que não são sementes mas podem ser utilizados);
  • Lã ou fita;
  • Fio encerado, linha de bordar mais grossa ou barbante;
  • Tesoura.

Como fazer:

Passo 1:

Enrolar toda a lã no aro de arame até cobri-lo por completo. Termine dando um nó forte e o acabamento com mais um nó bem reforçado, para evitar que ele se desfaça posteriormente.

Passo 2:

A partir do nó principal, dê voltas com o fio em volta do aro, formando elos. A dica é conservar a mesma distância entre os elos e lembrar-se de deixar o fio um pouco solto. Para finalizar, deixe um espaço de 1 cm do primeiro nó. Continue a sequência.

Passo 3:

Continue passando a linha por dentro dos elos que se formaram, fazendo sempre novos elos que estarão perto do meio do elo anterior e assim sucessivamente. Em seguida, dê um nó e arremate o fio que sobrou. Assim, você deve continuar até a completar todo o aro.

Obs.: Se estiver trabalhando com crianças menores, deixe que eles façam esse trançado livremente.

Passo 4:

Coloque uma argola ou um pouco de fita para que você possa pendurar o seu Filtro dos Sonhos. 

Passo 5:

Decore o Filtro dos Sonhos com as penas, miçangas, sementes, pedras e folhas pendurando os tesouros na parte de baixo.

Passo 6:

Prontinho! Já pode colocar O filtro dos Sonhos na janela do seu quarto e aguardar bons sonhos!

Passo a passo para tecer uma rede mais elaborada
Ideia de um trançado mais simples e utilização de penas feitas com recorte de papel (caso não haja elementos naturais para utilizar)

5. Final: 

Canto final

(ao se trabalhar com crianças)

“Filtro dos sonhos”

 Ricardo Novais

Entrelaçando a terra

Com o céu sagrado

Cada Curumim tecendo

Ao som do meu cajado

Sonhos vêm pelo ar

Deixando o que é bom passar

Folhas, penas, pedras, fios

Filtrando os sonhos

Filtrando os sonhos

Filtrando os sonhos….


Leitura do texto  

(sugestão ao se trabalhar com mulheres)

Registro da antropóloga Paola Klug, Fotografia tirada na Nicarágua por Candelaria Rivera, do ensaio fotográfico: “Amor de Campo”

“A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste,

o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo;

de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo.

Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos,

porque iria fazer com que chorassem,

também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras,

que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa.

Porque a tristeza gosta do sabor amargo.

Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força.

O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.

Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência.

Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo.

Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.

E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…“

Paola Klug

Conto

de Ananda Sette

O Filtro dos Sonhos 

Há muito tempo atrás, existiu uma tribo indígena que vivia feliz em harmonia e prosperidade. Os índios, índias e seus filhos curumins não tinham com o que se preocupar. Tinham alimento e roupas que eles mesmos cultivavam e faziam. Tinham momentos para as atividades educativas e brincadeiras para as crianças. Homens e mulheres se alternavam nos trabalhos e tudo fluía muito bem em perfeita harmonia.

Certo dia, índios fortes e valentes começaram a ficar muito doentes. Homens que antes andavam distâncias enormes para caçar e carregavam cestos pesados cheios de alimentos, começaram a se sentir cansados e sem energia.  Eles ficavam dias sem conseguir fazer nada, só deitados na rede sentindo muita dor no corpo. Ninguém sabia o que estava acontecendo e isso era o que mais assustava as pessoas da aldeia. Os habitantes da aldeia perceberam que quem chegava perto das pessoas doentes, ficavam doentes também. E por isso passaram a separar as pessoas doentes das pessoas saudáveis, o que causou muita tristeza principalmente nas crianças que começaram a ter pesadelos terríveis. Elas sonhavam que seus pais ficavam doentes, elas ficam sozinhas e muitas coisas estranhas aconteciam.

O Pajé queria saber o que estava causando aquela doença que só trazia desarmonia na aldeia. Ele então pegou seu cajado mágico e num ritual de cantos e danças consultou os bons espíritos. No ritual, ele sentiu que energias desarmônicas geradas pela poluição do planeta e desrespeito a natureza estavam penetrando na aldeia e fazendo os índios ficarem doentes.

O Pajé então mandou chamar todos os curumins. Quando os indiozinhos chegaram e já se encontravam sentados em roda aguardando a grande revelação, o Pajé disse a eles: 

– O Grande Espírito me disse que vocês terão que ser fortes e unidos para ajudar na missão de salvar a nossa tribo e trazer de volta a saúde plena para a aldeia. Vocês aceitam o desafio?

O indiozinho Rubi perguntou:

     – Mas o que teremos que fazer Pajé? Eu tenho medo dos pesadelos!

     – Não tenha medo Rubi! A tarefa é simples, porém muito poderosa! – disse o Pajé.

Obi , um indiozinho valente, então se enchendo de coragem disse:

      – Vamos amigos! Vamos fazer o que for preciso para ajudar a salvar nossa tribo e nos livrarmos desses pesadelos horríveis!

O Pajé então explicou a tarefa:

      – Vocês precisam recolher tesouros nos arredores das ocas de vocês. Penas, pedras, folhas, sementes, tudo de precioso que a natureza pode nos oferecer! Cada um usará esses tesouros como oferendas ao Grande Espírito. Cada um tecerá uma rede delicada, entrelaçando os fios da terra com os fios do céu sagrado, fazendo o caminho de se reconectar com a mãe natureza. A cada laçada e a cada nó, vocês devem pedir orientação para sanar o problema. Essas redes serão Filtros dos sonhos onde vocês amarrarão os tesouros da natureza. 

Os curumins sabiam que ao tecer um Filtro dos Sonhos eles poderiam usá-lo para filtrar as energias más, deixando passar somente as boas. E foi o que fizeram.

Cada um fez o seu Filtro dos Sonhos com os tesouros que encontraram. A pena de coruja que é leve como o ar, simboliza a sabedoria e a coragem, capacidade de enxergar no escuro. As pedras representam a cura e ajudam a eliminar o medo e a tristeza. As folhas secas representam a passagem do tempo. Como elas nascem verdinhas e ficam marrons e secas com o tempo, assim é o ciclo da vida, que cabe a nós aceitar e compreender. As sementes simbolizam tudo aquilo de bom que podemos plantar para colher mais na frente.

Assim, cada criança fez seu Filtro dos Sonhos e o colocou na porta de seu quarto ou próximo da janela para impedirem que os pesadelos e energias ruins entrassem nas casas e nas aldeias.

Pouco a pouco, na medida em que cada criança foi fazendo seu filtro, mais e mais a aldeia ia se purificando e se livrando daquele perigo e daquela doença estranha. As crianças que tinham dificuldade em fazer o trançado ou encontrar os tesouros, eram ajudadas por outra criança, até que todas completasse a tarefa!

Quando não faltava nem mais uma criança para fazer e pendurar seu filtro do sonho, aquela doença e as más energias se dissiparam e nunca mais voltaram por ali. Só ficaram as boas energias e sonhos bonitos. Não foi fácil, cada um teve que se comprometer em fazer a sua parte e ainda auxiliar quem precisasse.

Mas, enfim os pesadelos acabaram, e os habitantes da aldeia, guiados pelas energias harmônicas que os Filtros dos Sonhos trouxeram, restabeleceram a paz e a saúde na tribo.

Assista o vídeo com a atividade completa.

https://youtu.be/h5Qltzje7us

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Ananda Sette

Sou mãe da Rosa, Lira e Aurora, minha missão primordial. Desde criança vivo no universo da costura e há anos me dedico aos trabalhos manuais de maneira ampla. Comecei a dar aulas de modelagem e costura em meu ateliê, para adultos e crianças, pois descobri que esse é o propósito que está em meu DNA e no de minhas ancestrais. Busco inspirar mulheres a se reconectarem com os fazeres manuais e as crianças a se desenvolverem de maneira mais integral através da costura. Venho incluindo contos e dinâmicas curativas nesses processos.